Qual foi a novela que parou o Brasil! Você se lembra?

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A teledramaturgia brasileira tem em seu histórico grandes sucessos, muitos deles produzidos pela Rede Globo.  Em meio a um cenário de transformações na forma como o público consome entretenimento, com o crescimento das plataformas de streaming e os desafios enfrentados pela TV aberta, relembrar marcos da televisão se torna ainda mais relevante. Roque Santeiro, novela exibida originalmente entre 1985 e 1986, completa 39 anos do seu lançamento representando um fenômeno de audiência que dificilmente se repetirá.

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A trama, escrita por Dias Gomes e Aguinaldo Silva, conquistou o público com a história de Roque (José Wilker), Viúva Porcina (Regina Duarte) e Sinhozinho Malta (Lima Duarte), personagens icônicos que se tornaram parte da cultura popular brasileira. Ambientada na fictícia cidade de Asa Branca, a novela cativou os telespectadores com seus personagens carismáticos e enredo envolvente.  O último capítulo, exibido em 22 de fevereiro de 1986, alcançou a impressionante marca de 96 pontos de audiência, com picos de 100% dos televisores ligados, um feito extraordinário para a época e praticamente impossível de ser replicado no contexto atual da mídia.

Da Censura ao Sucesso

A trajetória de Roque Santeiro até a sua exibição foi marcada por desafios. A novela, inicialmente prevista para estrear em 1975, foi censurada pelo governo militar após a gravação de 30 capítulos. A alegação era de que a trama se assemelhava à peça O Berço do Herói (1965), também proibida durante a ditadura.  Curiosamente, Lima Duarte, intérprete do inesquecível Sinhozinho Malta, foi um dos poucos atores que permaneceram no elenco após a liberação da novela, dez anos depois.  Na primeira versão, Roque seria interpretado por Francisco Cuoco e Viúva Porcina por Betty Faria.  Em entrevista concedida ao jornal Meia Hora em 2021, Lima Duarte relembrou o retorno da novela: “Roque Santeiro sempre estava na pauta de todas as conversas, era uma novela que todos nós adorávamos e ficou 10 anos proibida. Só eu que era remanescente do elenco original, Sinhozinho. Mas foi muito feliz porque teve o maravilhoso Zé Wilker fazendo o Roque Santeiro e a Porcina, com a Regina Duarte maravilhosa.”

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Bastidores e Desentendimentos

Além da censura, “Roque Santeiro” também enfrentou conflitos nos bastidores, principalmente devido a desentendimentos entre seus autores. Dias Gomes, criador da história, escreveu os primeiros 51 capítulos e passou a responsabilidade para Aguinaldo Silva, que desenvolveu cerca de 110 episódios.  Com o estrondoso sucesso da novela, Dias Gomes decidiu retornar à equipe de roteiristas na reta final, gerando atritos com Aguinaldo Silva.  Em seu livro A Seguir, Cenas dos Próximos Capítulos, Aguinaldo Silva relatou o ocorrido: “O Dias simplesmente não se interessou pela novela, tanto que ele me entregou os primeiros capítulos e depois viajou para a Europa. […] Quando ele voltou da Europa, uns três meses depois, Roque Santeiro já era um estouro, um escândalo de sucesso. Desconfio até que o Dias nunca tenha visto Roque Santeiro até o momento em que ele voltou a escrever.”  A reconciliação entre os dois autores ocorreu apenas em 1999, 14 anos após a exibição da novela, pouco antes do falecimento de Dias Gomes.

O Legado de Roque Santeiro

Mesmo após quase quatro décadas, Roque Santeiro permanece na memória do público brasileiro. A novela se tornou um marco na história da teledramaturgia, demonstrando a capacidade da televisão de criar narrativas que cativam e unem gerações.  A trama, que abordava temas como religião, política e costumes, continua relevante e proporciona reflexões sobre a sociedade brasileira.  O sucesso de Roque Santeiro reforça a importância da preservação da memória televisiva, permitindo que as novas gerações conheçam e apreciem as obras que contribuíram para a construção da identidade cultural do país.

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